As lojas em Carvalhal

A tia nunca faz compras no intermarché nem no lidl porque diz que no intermarché os sacos são muito fraquinhos e os do lidl têm de se pagar, mesmo assim é assinande da dica da semana só para ler as anedotas e (tentar) fazer o sudoku.

Faz sempre compras na Ti Domingas, na Zita e Leonor, eu uma vez fui comprar fósforos à Zita porque tinha ficado sem gás no isqueiro mas ela não me vendeu porque era na semana de carnaval e pensava que era para mandar morteiros. Uma vez no carnaval rebentei a caixa do correio a um velho, tive de ficar escondido durante uma hora no contentor do lixo porque ele andava à minha procura com uma pressão de ar, aquilo não mata mas dói.

A tia compra a carne no talho em Carvalhal na dona Estrela, eu uma vez disse-lhe que Estrela era nome de vaca e ela veio a correr atrás de mim com o coiso de afiar as facas, desde aí nunca mais lá entrei e quando lá passo é sempre a correr. A tia vai ao talho todos os dias e compra sempre fiambre do grosso, não sei como é que o que ela recebe da reforma chega para tanto, só se a reforma fosse paga ao quilo.

O peixe é comprado na Natividade, todas as Quintas-Feiras de manhã ela vai para o largo apitar e ás vezes até me acorda, eu antes ficava chateado mas uma vez perdi o autocarro e ela deu-me boleia até a Igreja Nova e apanhei o autocarro de Sintra, e como o carro dela cheira a peixe não se importa que eu fume lá dentro.

Às vezes venho com fome da escola e paro na Ti Domingas para comprar belgas, fico a dever e depois quando lá for a minha mãe ou a minha avó têm de pagar.

Vamos sempre ao café da Lurdes e da Odília depois de almoço, eu peço um maço de kentucky porque é o mais barato e um galão se não não durmo de noite e fico lá a ver o consultório sexual da revista Maria. Ao fim de semana jogo à sueca com os velhos, uma vez fiz renúncia e eu e o Ti João da Luz perdemos logo, ele bateu-me com uma mini e desde então nao joga comigo.

Carvalhal tem mais de dez padarias mas eu vou sempre à da Laurentina porque é a que tem pão quente mais cedo, peço sempre ao João Pedro para vir comigo porque ele é afilhado da filha da Laurentina e assim não pagamos.

Quando calha vou à padaria do Rafael porque ele é meu amigo e assim tambem nao pago. Ele só tem padeiros brasileiros e romenos. O pai dele às vezes dá-me whisky porque gosta de me ver bêbado mas eu finjo que bebo e vazo no chão quando ele não está a olhar, uma vez a cadela dele ficou bêbeda por lamber o chão.